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Banco acusa fintech Wise de transferir R$ 100 milhões sem pagar impostos

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O banco paranaense MS Bank acusa a fintech Wise (ex-TransferWise) de fazer R$ 100 milhões em transferências ilegais. O banco declara que a startup usava os dados dos usuários para fazer essas transações. Em meio a isso, os clientes da startup convivem com comunicados e versões.

Segundo o fundador do MS Bank, Marcelo Sacomori, mais de 620 mil clientes foram usados na fraude. O MS Bank foi o correspondente cambial da Wise de 2016 até algumas semanas atrás.

Sediada em Londres, a TransferWise trabalha com transferência internacional de dinheiro, oferecendo facilidades no processo. É avaliada em US$ 5 bilhões (aproximadamente R$ 28 bilhões).

Clientes brasileiros que usassem a Wise tinham de depositar o valor em uma conta do MS Bank, o correspondente cambial da startup no Brasil.

Era assim até 18 de fevereiro. Nessa data, os usuários da Wise foram surpreendidos com um email do MS Bank anunciando o fim da parceria e um convite para usar uma nova plataforma de remessas internacionais, o CloudBreak. O design do site da CloudBreak se assemelha ao da Wise.

Alguns clientes reclamaram da abordagem nas redes sociais. “Fizemos isso para não deixar nossos clientes desamparados”, afirmou Sacomori, em entrevista à Folha.

Horas mais tarde, ainda na noite de 18 de fevereiro, a Wise mandou um email confirmando o fim do serviço. No dia seguinte, a Wise manda novo email, desta vez mais extenso, pedindo desculpas pelo fim repentino do serviço, considerando a mensagem do MS Bank e prometendo a retomada em algumas semanas.

A MS Bank voltou a entrar em contato com os usuários na noite da última sexta-feira (12). O novo email alega que a Wise usou os dados financeiros dos clientes para deixar de pagar impostos.

“A Transferwise fraudou transferências internacionais sem o conhecimento do MS Bank e dos usuários da plataforma, envolvendo seus nomes em crimes que podem levar a até seis anos de prisão: crimes contra o sistema financeiro nacional, contra a ordem tributária e contra a lei das organizações criminosas de caráter transnacional”, afirma o texto.

Em um vídeo no YouTube e em seu site, o MS Bank explicou como funcionava a suposta irregularidade. Segundo a empresa paranaense, o valor solicitado pelos usuários chegava ao MS Bank adulterado, com um pequeno percentual a mais.

Esse valor superior, cuja soma seria de R$ 100 milhões, foi enviado às subsidiárias internacionaisproximit da Wise sem o devido registro ou consentimento dos clientes.

O banco ensina os clientes a verificarem as supostas irregularidades no sistema Registrato, do Banco Central. Nesta segunda-feira (15), a Folha seguiu as instruções com o CPF de um cliente que fez transações recentes com a Wise, porém o Registrato pede dois dias úteis para emitir o relatório.

O MS diz que denunciou as irregularidades ao Ministério Público Federal e ao Banco Central. As instituições afirmaram por nota que não comentariam este caso específico. Sacomori afirma que as provas que embasam suas denúncias não podem ser mostradas por sigilo bancário e jurídico.

De acordo com Sacomori, a Receita Federal constatou os problemas e emitiu uma multa –até a publicação desta reportagem, a Receita não havia confirmado a informação. O executivo relata que a Wise teria se comprometido a pagar a penalidade, o que não aconteceu.

Em comunicado, a Wise diz que a diferença entre o pedido do cliente e o registro no Banco Central se deve pela diferença de câmbio e as tarifas do serviço. Também diz seguir a legislação tributária e aponta ser “alvo de campanha difamatória de ex-parceiro comercial”.

“A TransferWise Brasil tomará todas as providências legais –cíveis e criminais”, disse a empresa por meio de nota. “A empresa [Wise] desconhece qualquer investigação ou acusação em seu nome por nenhum órgão regulador”.

A Wise reconhece que o MS Bank teve acesso a “alguns dados pessoais” de usuários, por isso os clientes receberam as mensagens do banco. A política de privacidade da Wise prevê o compartilhamento de informações dos usuários com parceiros comerciais.

Atualmente, o envio do exterior a contas brasileiras funciona normalmente. Remessas com origem no Brasil podem ser feitas apenas em conversões de real para dólares americanos. A startup promete retomar o serviço completo com outras opções de moedas e países em breve, sem dar prazo específico.

A Wise foi fundada em 2011 pelos estonianos Taavet Hinrikus e Kristo Käärman. A empresa opera no Brasil desde 2015. Declara ter mais de 10 milhões de usuários que transacionam US$ 6 bilhões (cerca de R$ 34 bilhões) mensalmente.

Um dos “unicórnios” mais festejados da Europa, a empresa vem expandindo sua oferta de produtos, se aproximando cada vez mais a um banco tradicional –oferece cartão de débito em alguns países, por exemplo.

O MS Bank é uma empresa menor. Balancete publicado no site do banco do Paraná registra lucro líquido de R$ 12,8 mil no primeiro semestre de 2020. A empresa começou a operar em 18 de fevereiro de 2014, exatos sete anos antes do anúncio do rompimento com a Wise.

Fonte: Folha de São Paulo

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