Bancos
Bancos estudam medidas pontuais para aliviar clientes
Quando a pandemia de coronavírus atingiu pela primeira vez a economia brasileira, no primeiro semestre do ano passado, os bancos anunciaram pausas automáticas nos pagamentos para quem precisasse. Agora, apesar de o número de mortes diárias ter triplicado e do anúncio de novas medidas de isolamento social, as ações das instituições financeiras para aliviar a situação dos clientes devem ser menos generalizadas e mais graduais.
Rubens Sardenberg, economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), afirma que, apesar de a pandemia ter se agravado, hoje a incerteza é um pouco menor, porque os bancos e autoridades já sabem o que estão enfrentando, e a vacinação dá uma esperança de que o impacto na atividade seja mais limitado. “Do ponto de vista das medidas [a serem tomadas], vai depender da extensão dessa crise. Se tiver uma situação em que a pandemia piora, se estendendo no tempo, acho que vai ser inevitável tirar da prateleira o ‘kit’ usado da outra vez”, comenta.
Segundo ele, nesse caso é razoável imaginar que os bancos vão ter de fazer outras rodadas de prorrogações, repactuações, e que o BC vai olhar de novo com cuidado a questão da liquidez. “Mas essa situação de impacto maior e mais necessidade de medidas hoje não é um cenário dado. A vacina está aí, tem uma luz no fim do túnel.”
No ano passado, os bancos concederam carências de dois a seis meses em operações que totalizam R$ 971,5 bilhões. A maior parte já voltou a ser paga e tem mostrado inadimplência controlada.
José Ramos Rocha Neto, diretor-executivo do Bradesco, afirma que a expectativa é que essa segunda onda tenha um impacto menor na economia. Sobre eventuais medidas, ele diz que as possibilidades de repactuação oferecidas no ano passado nunca foram retiradas pelo banco. O que está sendo feito agora é que, com o uso de análise de dados, o Bradesco está identificando clientes com maior propensão a entrar em atraso e começará a contatá-los ativamente. “Vamos começar essa oferta pró-ativa em 1º de abril”.
Já o Itaú, em posicionamento enviado ao Valor, afirmou que desde o início da pandemia tem apoiado seus clientes, concedendo empréstimos e renegociando dívidas de forma a adequar o fluxo de pagamentos à capacidade financeira. “Neste momento, estamos trabalhando com condições especiais de renegociação, com prazos longos e carências para pagamentos. Também estamos em constante contato com os gestores das linhas emergenciais, avaliando quais linhas e flexibilizações podem ser repassadas aos clientes.”
O Santander anunciou na semana passada que elevou de cinco para seis anos o prazo máximo de empréstimos e está apoiando os negativados para reorganizarem suas finanças com liberação de novos créditos em até três meses e descontos de até 90% nas dívidas. “Ambas as iniciativas têm como objetivo dar liquidez às pessoas neste momento de redução da atividade econômica, permitindo também uma melhor gestão do orçamento”, afirmou em nota Cassio Schmitt, diretor de produtos de crédito do Santander.
Banco do Brasil e Caixa foram procurados, mas não se manifestaram. O Valor apurou que outras instituições, incluindo alguns grandes players digitais, também estão estudando medidas para ajudar os clientes, que podem ser anunciadas em breve. No Banco Original, por exemplo, foi criado o programa Fique no Verde, no qual o cliente pode renegociar em um só pacote dívidas do cheque especial, cartão de crédito e empréstimo pessoal. “Nós criamos uma linha intermediária, então a gente faz a repactuação e, à medida que o cliente vai pagando, nós vamos restabelecendo limites do cheque especial, do cartão”, explica o presidente, Alexandre Abreu.
Sobre medidas para empresas e que dependem de aprovação das autoridades, o governo liberou mais três meses de carência para o início do pagamento dos empréstimos tomados no Pronampe. No Santander, a medida, que já começou a valer, teve adesão de 25% do público elegível até a semana passada, enquanto no Bradesco ficou em 9%. Já o Itaú afirmou que está em contato com o gestor do Pronampe, avaliando os normativos e esclarecendo dúvidas, para poder oferecer a prorrogação das parcelas a seus clientes. “O banco pretende disponibilizar a possibilidade de extensão da carência assim que as dúvidas forem sanadas.”
Além disso, o Congresso estuda tornar o Pronampe um programa permanente. O projeto foi aprovado no Senado, mas a garantia do Tesouro diminuiria dos atuais 85% para 30%, o que significa que os juros aumentariam, passando de Selic mais 1,2% para Selic mais 6%. Agora o projeto tramita na Câmara e há negociações para que o nível de garantia seja escalonado, assim como os juros.
Alguns bancos também defendem que o governo zere de novo o IOF sobre operações de crédito, so o argumento de que isso deu impulso muito forte nas concessões. Rocha, do Bradesco, tem uma visão um pouco diferente. “O IOF criou um estímulo, mas tem um preço, afeta o fiscal. Para ser franco, não estou vendo ainda necessidade de estimular o crédito. Se o BC perceber que o crédito perdeu fôlego, ele poderá adotar medidas prudenciais de estímulo, mas ainda não vislumbro necessidade disso.”
Dados do BC divulgados nesta segunda-feira mostram que a concessão de crédito, com base na média diária, cresceu 17,7% na passagem de janeiro para fevereiro. Entretanto, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) aponta que, na comparação anual e descontada a inflação, o crédito às empresas caiu 1,4% em fevereiro, na terceira retração consecutiva. “Na ausência dos programas emergenciais e diante do endurecimento das medidas restritivas a partir de março, esta trajetória sinaliza para possíveis complicações no financiamento corporativo nos próximos meses.”
Sardenberg, da Febraban, também acha que, se as autoridades adotarem novas medidas, será algo mais limitado e gradual do que foi em 2020. “Da outra vez eles viram que o negócio ia complicar e saíram injetando liquidez, fizeram uma série de medidas. Agora vai acabar acontecendo um monitoramento e, na medida do necessário, tenho a impressão de que poderemos ter outras medidas, programas mais focados nos segmentos de serviços que foram afetados de maneira mais forte.” (Colaborou Sérgio Tauhata)
Fonte: Valor Econômico