Meios de Pagamento
O ano do mercado de pagamentos no Brasil
Terminou Janeiro de 2018. E já temos, o maior começo para um setor, que já se viu na história.
Enquanto eu escrevo esse texto, em pleno feriado em SP, as ações do PagSeguro estão valendo cerca de U$30.
Senhoras e senhores, foi uma baita estréia. De dar orgulho mesmo. Temos uma gigante na bolsa americana e isso é ótimo para todo ambiente tecnológico do país, especialmente para o de pagamentos, que disputa uma fatia gorda de R$1 trilhão de processamento anual.
Champagne e IPO na Times Square
A captação do IPO do PagSeguro chegou a mais de U$2,27 bilhões, que atingiu um pico no preço da ação em mais de 30% na estréia.
Parabéns, Frias, Fuentes e Dutra e todo time, essa é para estourar a champagne mesmo. Essa abertura de capital é a maior abertura de capital na NYSE desde a abertura do Snapchat no ano passado (fonte Bloomberg).
Para mim, empreendedor e entusiasta do setor, o orgulho é muito grande também. Há alguns anos, o PagSeguro entrou num mercado até então, desprezado pelas grandes, o do microempreendedor. Quem trabalha há pelo menos mais de 10 anos nesse segmento, sabe bem que as operadoras de cartões sempre quiseram o filé (aparente) do mercado: empresas com histórico de banking e com faturamento para justificar um credenciamento.
Não com o PagSeguro.
Eles foram exatamente nessa direção: atender quem realmente precisa de solução. Afinal, um dos princípios básicos da tecnologia é viabilizar a resolução de problemas. Investiram “pesado” na Moderninha e encontraram um modelo implacável. Durante o percurso, viraram adquirentes. Tiro certeiro.
Na verdade, o que eu queria mesmo escrever é que o PagSeguro entrou com os dois pés no peito da bolsa americana. Li no The Brief, que o Square, uma das fintechs queridinhas da bolsa, abriu capital em 2015, a um preço e U$15 e hoje está a U$44. A título de comparação, o Paypal no final de 2016, valia U$39, hoje está em U$80.
A NYSE tem gosto por fintechs, especial por payments.
Welcome to the jungle!
Antes do corajoso José Renato Hopf abrir o mercado de adquirência com a Getnet, as mãos desse mercado estava na mão de Cielo e Rede (antiga Redecard). Depois disso veio Elavon, Global Payments, First Data, Stone, entre outras. E centenas de soluções complementares (pré-pagos, sub-adquirentes, gateways, antifraudes, bandeiras e etc) pingam mês a mês para amparar um mercado gigante, que é o de pagamentos no Brasil.
Mas vale lembrar, a situação no país é equiparada a uma selva.
Além do poder econômico e de distribuição das grandes, regulamentação e necessidade de capital, são dois desafios para as pequenas. Mas não é impossível. O próprio Banco Central abre espaço para a inovação, mantendo uma agenda próxima de fintechs e novos players.
Essa abertura, possibilitou o nascimento de outras três gigantes: Elo, Stone e Nubank. Se perguntarem como elas estão indo, 99% do mercado diria que estão “de vento em popa.”
- O Nubank já é banco e possui milhões de clientes;
- A Stone está perto de chegar aos 10% de market share (o que é coisa grande);
- A Elo é a terceira bandeira já, com forte crescimento e já incomoda.
São nomes que até pouco tempo atrás, não existiam.
11 meses pela frente
Nesse ano de 2018, com 18 feriados, uma copa do mundo e uma eleição, as incertezas são grandes, no campo político e econômico, mas não parece abalar o mercado de pagamentos por aqui.
A Stone é a próxima, não há dúvidas. Preparam como ninguém uma próxima cartada e ela parece estar se formando na bolsa americana também. Tem números, mercado e força, assim como o PagSeguro. As previsões apontam para o segundo semestre. E isso será ainda melhor para o segmento. “Payments” vai virar um negócio de IPO, como deveria ser há algum tempo.
Sinal disso é que antes mesmo desse mês terminar, a Stelo foi adquirida pela Cielo. Apesar da transação ter sido dentro de casa, mostra uma intenção de verticalização das soluções e das empresas. Afinal transacionar pagamentos, por si só, é commodity. O que está claro também, é que no país, meio de pagamento é um negócio claro de M&A (fusões e aquisições).
Fiz uma lista abaixo para entender o que aconteceu nos últimos anos em “payments e M&A” no país:
- Pagamento Digital (Bcash) – adquirida pelo Buscapé
- BRPay – adquirida pelo UOL
- Boa Compra – adquirida pelo UOL
- FControl – adquirida pelo Buscapé
- Superpay – adquirida
- Saque e Pague – adquirida pela Stefanini
- Orbitall – adquirida pela Stefanini
- CobreBem – adquirida pela Worldpay
- Moip – adquirida pela Wirecard
- OneBuy – adquirida pela Certisign
- Auttar – adquirida pelo Santander
- Getnet – adquirida pelo Santander
- M4u – adquirida pela Cielo
- Braspag -adquirida pela Cielo
- maxiPago adquirida pela Rede (Itau)
- Pagar.me / Mundipagg – incorporada pela Stone
- Smartbill – adquirida pela Vindi
- Aceita Fácil – adquirida pela Vindi
- Stelo – adquirida pela Cielo
Existe claramente, uma abertura de mercado para novos players, afinal o mercado é grande. Mas também é evidente, uma “fome” real de grandes conglomerados para adquirir empresas desse setor.
Acrescente isso a um cenário, com:
- a Vero (Banrisul) atuando forte no sul do país;
- a Payu com dinheiro da Naspers;
- a Worldpay (adquirida pela Vantiv lá fora) entrando;
- Adiq (do Bonsucesso), Safrapay (Banco Safra);
- o Mercado Pago com a força do Mercado Livre;
- a Iugu (com foco em startups);
- Acquio escalando através de franquias;
- Méliuz e BeBlue arrepiando em cashback;
- a Acesso (líder nos pré-pagos);
- o Neon (banco digital referência), O Inter (com previsões de IPO também);
- a Vindi (que prefiro não falar, por razões óbvias);
- a Adyen que vem fazendo um trabalho excepcional no e-commerce;
- o EBanx (baita case);
- o Paypal (player global);
- entre outras centenas de outras lutando de igual para igual.
Ainda teve:
– EBANX captando R$95 milhões de investimentos;
– BestPay adquirida pelo Grupo Garantia;
Viu como é uma selva e como pode ser esse ano?